Michel Gondry: Do It Yourself

Michel Gondry: Do It Yourself (2023) traça um retrato íntimo do cineasta francês cuja obra, ao longo de três décadas, se tornou sinónimo de imaginação descomprometida. O filme explora um universo criativo marcado por uma beleza imperfeita — trabalhos que impressionam pela sua estranheza, fragilidade e lirismo, sempre à beira do caos controlado. Ver Gondry em cena é ver a poesia à solta, onde o inacreditável se constrói com material humilde e uma vontade inabalável de brincar com a realidade.

A narrativa foca-se nos métodos do autor: o fazer à mão, as soluções engenhosas e os truques práticos que deram forma a videoclips e longas-metragens reconhecidos pelo seu pioneirismo. Entre imagens de arquivo e conversas com colaboradores, o documentário desvenda o processo criativo — as tentativas, as falhas e os acasos que são tão essenciais como os êxitos. Há um fascínio constante pelas falhas como motor estético, pela ideia de que a imperfeição pode revelar mais verdade do que a perfeição.

O tom do filme é simultaneamente celebratório e contemplativo, captando a fragilidade de um autor que não teme expor os buracos na sua própria maquinaria artística. Humor, melancolia e admiração convivem, mostrando como a obra de Gondry pulsa entre o bizarro e o comovente. É um testemunho sobre a perseverança criativa e sobre a capacidade de transformar limitações em linguagem cinematográfica própria.

Para quem procura uma experiência que desafie expectativas, este retrato convida a revisitar o cinema como espaço de invenção e liberdade. Michel Gondry: Do It Yourself oferece um encontro com a imaginação em estado bruto, onde o encanto reside tanto na invenção brilhante quanto nas marcas deixadas pelo caminho.